A presente
resenha é resultado das leituras de Verba et al (1995) e Kerstenetzky (2003),
que demonstram que a relação entre participação, associações e desigualdade
caracteriza-se pela sub-representação da voz política em razão das condições de
status socioeconômicos desiguais, juntamente com outros atributos como raça ou
etnia, religião, gênero, idade, níveis educacionais, que têm impacto sobre seus
interesses e vontade política entre os bem e menos favorecidos economicamente.
No entanto, questões que configuram uma conjuntura de interesses organizados,
que operam através do lobby e uso do poder econômico para defender e garantir
seus interesses enquanto grupos organizados através associações afetam a
política e geram desigualdades de participação e representatividade política.
Nessa
conjuntura, o voto deveria ser o instrumento imediato para equalizar essas
relações de forças nas tomadas de decisões frente a diversas opções de escolhas
de candidatos e propostas, mas ele não promove igualdade de representação de
interesses políticos. Isso favorece a manifestação de interesses organizados
nas associações, as quais contribuem para a ocorrência de apatia política, pois
nem sempre associativismo político significa ou garante representatividade
universal de interesses políticos antagônicos.
As
organizações apresentam maior capacidade de produzir e disponibilizar dados e
informações com tempestividade, baixo custo e assim influenciar os processos de
formulação e implementação de políticas e serviços públicos. A participação
política através das associações é difusa, pois ela pode ter poder de
influenciar a política, mas não ter clareza sobre quais interesses e de quem é
a voz por ela representados. No seu contexto, o direito de voz política é
limitado a uma camada de cidadãos em situação de privilégio e não aos menos
favorecidos gerando apatia política por causa de suas limitações
socioeconômicas.
Os recursos
financeiros ampliam as desigualdades entre ricos e pobres atuando em benefício
de interesses organizados, por causa da distribuição desigual de renda. Assim,
as semelhanças e diferenças sobre a forma como participação e associações se
conectam com as desigualdades, manifestam-se para além das diferenças de status
socioeconômico e outros fortemente associadas à participação política. Mas,
apesar dessa conjuntura, disputas políticas originam pressões sociais
catalisadas por interesses específicos que objetiva persuadir os formuladores
de políticas públicas para influenciar projetos, leis, etc. Aqui,
caracteriza-se a diferença na divergência da visão pluralista dos grupos de
interesses que desconsideram as pressões políticas resultantes dos conflitos
gerados na manifestação e/ou silenciamento da voz política nas lutas
assimétricas entre classe alta e menos favorecidos que surgem na arena
política.
Os
interesses organizados poderosos das associações permitem elevar a voz na
construção do status quo da política. Esta conjuntura permite a
preservação da posição política sem alteração das assimetrias sociais obtendo
vitórias despercebidas sem promover mudanças nas políticas desiguais, sendo a
ação política dos grupos de pressão que devem introduzir a mudança nos
resultados políticos positivos.
Uma maneira
de mudar essa relação pode ser através da atuação em rede, garantindo direitos
socioeconômicos para a distribuição equitativa de riquezas, fomentando a
participação política através da educação para o empoderamento e engajamento
político, inclusive com mediação tecnológica digital para induzir a
participação política e incidir nos governos e sobre as políticas e serviços
públicos.
Referências
KERSTENESTZKY, Celia Lessa. Sobre Associativismo, Desigualdades e Democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais - Vol. 18 nº. 53.
VERBA, Sidney, SCHLOZMAN, Kay Lehman e BRADY E. Henry. 1995. Voice and Equality – Civic voluntarism in American politics. London: Cambridge University Press.
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