sexta-feira, 16 de abril de 2021

A RELAÇÃO ENTRE PARTICIPAÇÃO, ASSOCIAÇÕES E DESIGUALDADES

 

A presente resenha é resultado das leituras de Verba et al (1995) e Kerstenetzky (2003), que demonstram que a relação entre participação, associações e desigualdade caracteriza-se pela sub-representação da voz política em razão das condições de status socioeconômicos desiguais, juntamente com outros atributos como raça ou etnia, religião, gênero, idade, níveis educacionais, que têm impacto sobre seus interesses e vontade política entre os bem e menos favorecidos economicamente. No entanto, questões que configuram uma conjuntura de interesses organizados, que operam através do lobby e uso do poder econômico para defender e garantir seus interesses enquanto grupos organizados através associações afetam a política e geram desigualdades de participação e representatividade política.

Nessa conjuntura, o voto deveria ser o instrumento imediato para equalizar essas relações de forças nas tomadas de decisões frente a diversas opções de escolhas de candidatos e propostas, mas ele não promove igualdade de representação de interesses políticos. Isso favorece a manifestação de interesses organizados nas associações, as quais contribuem para a ocorrência de apatia política, pois nem sempre associativismo político significa ou garante representatividade universal de interesses políticos antagônicos.

As organizações apresentam maior capacidade de produzir e disponibilizar dados e informações com tempestividade, baixo custo e assim influenciar os processos de formulação e implementação de políticas e serviços públicos. A participação política através das associações é difusa, pois ela pode ter poder de influenciar a política, mas não ter clareza sobre quais interesses e de quem é a voz por ela representados. No seu contexto, o direito de voz política é limitado a uma camada de cidadãos em situação de privilégio e não aos menos favorecidos gerando apatia política por causa de suas limitações socioeconômicas.

Os recursos financeiros ampliam as desigualdades entre ricos e pobres atuando em benefício de interesses organizados, por causa da distribuição desigual de renda. Assim, as semelhanças e diferenças sobre a forma como participação e associações se conectam com as desigualdades, manifestam-se para além das diferenças de status socioeconômico e outros fortemente associadas à participação política. Mas, apesar dessa conjuntura, disputas políticas originam pressões sociais catalisadas por interesses específicos que objetiva persuadir os formuladores de políticas públicas para influenciar projetos, leis, etc. Aqui, caracteriza-se a diferença na divergência da visão pluralista dos grupos de interesses que desconsideram as pressões políticas resultantes dos conflitos gerados na manifestação e/ou silenciamento da voz política nas lutas assimétricas entre classe alta e menos favorecidos que surgem na arena política.

Os interesses organizados poderosos das associações permitem elevar a voz na construção do status quo da política.  Esta conjuntura permite a preservação da posição política sem alteração das assimetrias sociais obtendo vitórias despercebidas sem promover mudanças nas políticas desiguais, sendo a ação política dos grupos de pressão que devem introduzir a mudança nos resultados políticos positivos.  

Uma maneira de mudar essa relação pode ser através da atuação em rede, garantindo direitos socioeconômicos para a distribuição equitativa de riquezas, fomentando a participação política através da educação para o empoderamento e engajamento político, inclusive com mediação tecnológica digital para induzir a participação política e incidir nos governos e sobre as políticas e serviços públicos. 




Referências



KERSTENESTZKY, Celia Lessa. Sobre Associativismo, Desigualdades e Democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais - Vol. 18 nº. 53.


VERBA, Sidney, SCHLOZMAN, Kay Lehman e BRADY E. Henry. 1995. Voice and Equality – Civic voluntarism in American politics. London: Cambridge University Press. 






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